O cenário da indústria têxtil se mostra cada vez mais em constante evolução, apresentando tanto desafios quanto oportunidades. O Brasil, maior cadeia têxtil completa do Ocidente, desenvolve desde a produção das fibras, passando por fiações, tecelagens, beneficiadoras e confecções até chegar ao varejo.
Segundo a analista de marketing da Huvispan Têxtil, Larissa Barros, a indústria da moda vive um momento de dualidade. “De um lado, a agilidade e avanço disruptivo, rumo a um futuro com novas tecnologias surgindo. Do outro, a sustentabilidade e as ameaças climáticas constantes, visto que é uma das indústrias mais poluentes do planeta”, analisa.
A especialista explica que as tendências podem ser influenciadas por uma variedade de fatores, incluindo mudanças nas preferências do consumidor, avanços tecnológicos e questões ambientais e sociais.
“Mas a combinação entre sustentabilidade, tecnologia e estética promete transformar a produção têxtil para os próximos anos, trazendo novas oportunidades e desafios para os profissionais do setor”, revela. Confira cinco tendências marcantes da indústria têxtil que estão definindo o futuro da moda e da produção:
A preocupação com o meio ambiente tem levado a um aumento na demanda por produtos têxteis sustentáveis. Isso inclui o uso de materiais orgânicos, reciclados e processos de produção mais ecológicos.
A Huvispan Têxtil, por exemplo, lançou recentemente a H Green, uma proposta inovadora para o mercado. “Nós customizamos o serviço completo de tecelagem e beneficiamento com o fio de poliamida reciclado. O propósito é impulsionar a sustentabilidade nas malhas de poliamida, garantindo que sejam produzidas com um fio 100% reciclado e ecofriendly”, diz Larissa.
Outro exemplo é a Incofios, que conta o rastreamento pela tecnologia blockchain, que monitora o algodão desde a semente no campo até a roupa vendida no varejo. A iniciativa veio da Associação Brasileira de Produtores de Algodão, e o monitoramento garante a sustentabilidade da cadeia.
“O caminho que o algodão certificado percorre começa na fazenda, onde a produção atende a um completo protocolo, que abrange desde o respeito ao meio ambiente e às leis trabalhistas até a eficiência econômica. Esse monitoramento segue até o final do ciclo da peça”, explica o diretor geral da empresa, Edson Schlogl.
A inteligência artificial (IA) começou a desempenhar um papel significativo na indústria têxtil. Em fase de testes em muitas empresas, a IA pode ser aplicada para a otimização da cadeia de suprimentos, design e desenvolvimento de produtos, manufatura inteligente, personalização e produção sob demanda, atendimento ao cliente, entre outros.
“Acreditamos que a IA é uma inovação grandiosa e irreversível. Em vez de resistir, estamos nos adaptando à essa tecnologia, afinal, ela oferece otimização de tempo em diversos setores, auxilia em conferências visuais, entre outros. A tecnologia de robotização é um aliado valioso nos processos produtivos em geral, não somente na cadeia têxtil”, destaca Larissa, da Huvispan.
Entretanto, ela também destaca que é crucial manter a humanização no centro de operações. “Importante lembrar que o foco em relacionamentos deve caminhar lado a lado com essa nova realidade. Atualmente, estamos com alguns testes em andamento utilizando a IA em processos na produção, como a revisão de produto acabado e em atividades mais operacionais administrativas.”
As cores e estampas do ano também são importantes quando se fala de tendências. Por isso, Larissa destaca que a Huvispan Têxtil realizou uma pesquisa aprofundada e robusta sobre o tema. “No que diz respeito à sustentabilidade das cores, buscamos operar com total transparência, informando nossos clientes sobre as cores de tingimento que causam menos ou mais impacto no meio ambiente. Acreditamos que esse conhecimento pode influenciar decisões e contribuir para um impacto ambiental reduzido.”
A WGSN, por exemplo, anunciou que a cor do ano para 2024 será o Apricot Crush, um tom de alaranjado que evoca entusiasmo e vitalidade. “Precisamos lembrar que estampas, sustentabilidade das cores e materiais no geral são fatores essenciais e influentes nas escolhas do consumidor, afinal, eles estão cada vez mais conscientes do impacto ambiental da indústria da moda. Como resultado, cores mais naturais e tons terrosos podem ganhar destaque, refletindo a conexão com a natureza e a preocupação com o meio ambiente.”
Os altos custos das fibras sintéticas e o impulso para práticas mais sustentáveis estão incentivando uma transição para fibras naturais, como algodão e lã. “Este movimento é especialmente relevante para o Brasil, o segundo maior exportador de algodão do mundo. Apostamos e observamos uma tendência em fios produzidos a partir de matérias-primas diferenciadas e fora do convencional, com a maioria delas sendo naturais e sustentáveis, como laranja, coco, cânhamo, entre outras”, aponta Larissa.
Os fios 100% algodão, que são a especialidade da Incofios, vão seguir em alta, também impulsionada pela busca dos consumidores por materiais sustentáveis. Os fios penteados e Open-End de alta qualidade produzidos em Santa Catarina e distribuídos para todo o Brasil e exterior respeitam o ciclo sustentável da cadeia. “Atualmente, mais de 90% dos resíduos da produção dos fios são recuperados e reciclados, e a meta é aumentar esse índice”, afirma Schlogl.
A demanda por transparência está em alta, e a tecnologia é a chave para atender a essa necessidade. “A tecnologia está se tornando essencial para rastrear o ciclo de vida dos produtos, desde a matéria-prima até o consumidor final. Isso não apenas otimiza a gestão de estoque e recursos, mas também constrói confiança com consumidores cada vez mais informados”, explica Larissa.
Além do rastreamento por blockchain, a Incofios também investe na tecnologia para otimizar e acompanhar todos os passos da produção. Robôs monitoram todo o processo e solucionam uma série de problemas que podem ocorrer ao longo da produção dos fios, como o rompimento das fibras. Além disso, todo o processo, da entrada do algodão na máquina ao fechamento das caixas, é automatizado e monitorado.